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Foco Acessível Do lado esquerdo dois círculos um maior e outro menor, estão centralizados um dentro do outro. O maior é tracejado e não é preenchido com cor e o menor é preenchido com cor. Ao lado das formas, o texto 'Foco Acessível'. A logo está apresentada na cor verde escuro.
Episódio #1 / 26:30
À frente, um homem branco de cabelos e olhos pretos, com barba e camisa estampada. Ao fundo, uma parede branca

Design, acessibilidade e conscientização da inclusão

Fernando Fernandes • UX Research

Neste episódio, falamos da produção acadêmica em design, projeto para inclusão de back-end exclusivo para PCDs e recomendações para adesão de um cenário mais inclusivo dentro das empresas.

Ouça o episódio

Detalhes
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Seja bem-vindo ao Foco Acessível, o podcast que leva até você as últimas novidades em acessibilidade, diversidade e inclusão na tecnologia. Em nosso primeiro episódio, vamos explorar como a acessibilidade e o design podem impactar não apenas o negócio das empresas, mas também a vida das pessoas.

Nosso convidado especial é Fernando Fernandes, UX Research na Thoughtworks, que traz suas experiências no Projeto Inclua, um projeto que trouxe impactos significativos para a vida das pessoas envolvidas e ganhos para a empresa no desenvolvimento do projeto. Além disso, ele vai compartilhar conosco suas experiências em jogos de cartas voltados para pessoas com TEA e dicas valiosas para nós.

Junte-se a nós nesta conversa inspiradora e informativa sobre o futuro da tecnologia acessível! E não se esqueça de acessar os links e à transcrição desta conversa e nos seguir nas redes sociais: LinkedInInstagramTikTokBluesky E se você tiver alguma sugestão ou feedback, adoraríamos ouvir de você - participe e contribua para tornar o mundo um lugar mais acessível e inclusivo para todos.

Índice do episódio

  • 00:00:20 - Introdução
  • 00:00:35 - Sobre o podcast
  • 00:01:01 - Autodescrição - Wagner
  • 00:01:20 - Seção de avisos - parte 1
  • 00:02:07 - Apresentação do convidado
  • 00:02:53 - Autodescrição - Fernando
  • 00:04:11 - Pergunta 1
  • 00:05:20 - Pergunta 2
  • 00:06:20 - Pergunta 3
  • 00:06:40 - Pergunta 4
  • 00:16:35 - Pergunta 5
  • 00:10:13 - Pergunta 6
  • 00:12:21 - Pergunta 7
  • 00:13:49 - Pergunta 8
  • 00:14:57 - Pergunta 9
  • 00:16:01 - Pergunta 10
  • 00:20:09 - Recomendações de e filme, livro, profissionais, teóricos ou especialistas de Fernando
  • 00:24:20 - Mensagem final de Fernando
  • 00:25:33 - Seção de avisos - parte 2
  • 00:26:00 - Agradecimento

Biografia do especialista

Há mais de 10 anos atuando como designer em produtos e serviços com foco em pesquisa, UX, jogos, acessibilidade, inclusão e diversidade, além de ampla experiência exercendo funções de liderança em projetos e times.

Mestre em Design, Ergonomia e Tecnologia pela UFPE. Possui foco em pesquisa, acessibilidade e estratégia. Direciona, também, seus estudos ao desenvolvimento de jogos para pessoas com deficiências.

Edição do episódio: Victor Souza

Wagner Beethoven: Olá, muito obrigado por se juntar a mim neste primeiro episódio do Foco Acessível! Este episódio é parte do meu projeto de TCC em Design de Interação para Artefatos Digitais da Cesar School.

Me chamo Wagner Beethoven, sou designer pernambucano e, há aproximadamente 10 anos, dedico-me ao estudo de acessibilidade, diversidade e inclusão digital.

Este podcast, o Foco Acessível, nasce dessa vontade de compartilhar minhas experiências e as de outros profissionais que trabalham com tecnologia assistiva, diversidade e inclusão, com todos que estiverem do outro lado ouvindo.

Estou super empolgado para conversar sobre esses assuntos com vocês. A cada novo episódio, um especialista será convidado para compartilhar suas vivências e conhecimentos.

Antes de iniciarmos o bate-papo, vou me autodescrever: sou um homem gordo de 37 anos, tenho pele branca, cabelo castanho-escuro e curto, barba de tamanho médio com diversos pelos grisalhos. Estou vestindo uma camisa preta, uso óculos para correção de miopia e estou com um headset com fio e microfone.

O Foco Acessível está disponível nas principais plataformas de podcast. Para saber mais e ter acesso a todo o nosso material, basta acessar o site: focoacessivel.github.io. GitHub se escreve G-I-T-H-U-B.

No site, você encontrará os episódios com transcrição e links para tudo que foi mencionado durante a conversa. Além disso, há um espaço para comentários e a possibilidade de se inscrever para receber notificações por e-mail sempre que um novo episódio estiver disponível.

Agora que os avisos foram dados, neste primeiro programa, temos a participação de uma pessoa muito especial: um profissional com uma produção acadêmica e de mercado altamente relevante.

Vou apresentar um pouco sobre o nosso especialista convidado: Fernando é um UX Designer com mais de 10 anos de experiência em diversos campos do design. Ele já atuou em companhias desenvolvendo artefatos digitais e não digitais, realizando facilitações e exercendo funções de liderança em projetos e equipes. É especialista em Design de Interação para Artefatos Digitais e mestrando em Design, Ergonomia e Tecnologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Fernando possui foco em pesquisa, acessibilidade e estratégia, além de direcionar seus estudos ao desenvolvimento de jogos para pessoas com deficiência.

Agora que todos já sabem quem é o nosso convidado, seja muito bem-vindo, Fernando! E, antes de começarmos, por favor, faça a sua autodescrição para a nossa audiência.

Fernando Fernandes: Olá, me chamo Fernando Fernandes. Prazer em conhecê-los, todas, todos e todes! Sou um homem branco, de cabelos curtos e pretos, olhos pretos, possuo uma barba rala, uso óculos de armação redonda na cor marrom e estou vestindo uma camisa preta. Estou sentado, com uma parede branca ao fundo e uma janela à direita. Atualmente, atuo como líder no programa Inclua, que fomenta a cultura de inclusão de pessoas com deficiência e acessibilidade na Thoughtworks Brasil. Além disso, estou finalizando meu mestrado em Design, Ergonomia e Tecnologia pela UFPE. É um prazer estar aqui contigo, Wagner!

Wagner Beethoven: Como você está? Porque eu estou muito nervoso. Mesmo tendo bastante experiência falando em público e sobre tecnologia, falar para quem não estou vendo é algo muito novo para mim. E, claro, tem a enorme expectativa, porque acessibilidade é um tema que eu adoro discutir. Se dependesse de mim, essa nossa conversa seria bem longa, mas sei que não temos tanto tempo assim.

Fernando Fernandes: Estou bem, tranquilo. O dia amanheceu um pouco frio, então coloquei uma roupa mais quente hoje. Estou pronto para esse bate-papo!

Wagner Beethoven: Para iniciar nossa conversa, como foi o seu primeiro contato com acessibilidade dentro do design? O que despertou o seu interesse em estudar e produzir sob a ótica acessível?

Fernando Fernandes: Meu primeiro contato foi por meio de uma disciplina sobre acessibilidade, durante a especialização em Design de Interação para Artefatos Digitais. Naquele momento, o tema me encantou e me levou a produzir um artigo sobre acessibilidade em jogos mobile para pessoas cegas. Desde então, não parei mais de pesquisar. Mais tarde, tive a oportunidade de lecionar uma disciplina de design inclusivo e acessível em uma escola técnica estadual em Recife. Foi uma experiência maravilhosa perceber o interesse dos adolescentes pelo tema. Recentemente, meu interesse pela temática me direcionou ao mestrado, onde pesquiso recomendações de acessibilidade para pessoas dentro do espectro autista, com foco em jogos de cartas.

Wagner Beethoven: Muito bacana esse seu primeiro contato! Ainda nessa parte acadêmica, você pode compartilhar um pouco sobre como está sendo a produção do seu trabalho de mestrado e como é trabalhar com pessoas dentro do espectro autista?

Fernando Fernandes: Claro! A produção está em fase final, e neste mês de abril irei defender minha dissertação. Durante a pesquisa, identifiquei lacunas e oportunidades que podem ser exploradas no futuro, possivelmente no doutorado. Trabalhar com pessoas dentro do espectro do autismo foi bastante desafiador, porque é um universo diferente do meu. Há muitas particularidades e individualidades que me fizeram desenvolver um novo olhar sobre as percepções humanas, o processamento cognitivo e os modos de agir. Foi uma experiência extremamente enriquecedora.

Wagner Beethoven: Então os próximos passos na sua jornada acadêmica incluem um doutorado voltado para acessibilidade?

Fernando Fernandes: Exatamente! Pretendo continuar focado em jogos e aprofundar ainda mais essa temática.

Wagner Beethoven: Agora vamos para o bloco sobre o mercado de tecnologia.

A academia e o mercado têm se aproximado cada vez mais em relação à acessibilidade, inclusão e diversidade. Porém, enquanto a academia dá passos largos, o mercado ainda apresenta uma grande lacuna na aplicação de boas práticas. Em 2020, uma pesquisa da BigDataCorp, em parceria com o Movimento Web para Todos, revelou que, de aproximadamente 17 milhões de sites ativos no Brasil, apenas 0,89% passaram em todos os testes de acessibilidade. Por que você acha que o mercado ainda encara acessibilidade e inclusão como um extra em seus projetos, e não como uma obrigação?

Fernando Fernandes: Acho que a falta de interesse das empresas em trabalhar com acessibilidade vem da ignorância sobre o tema. Quando inclusão e acessibilidade começam a ser mais discutidas nas empresas, as pessoas percebem o valor de investir nisso. Empresas que possuem programas para inclusão de pessoas com deficiência enriquecem sua cultura interna. Companhias que desenvolvem soluções pensando em acessibilidade desde o início conseguem alcançar mais clientes, o que pode se traduzir em aumento de capital. Ainda são poucas as empresas que entendem a importância da acessibilidade, mas esse número está crescendo globalmente. Quem não prestar atenção a essas mudanças vai perder mercado e ficar para trás.

Wagner Beethoven: Infelizmente, muitas vezes precisamos focar no lucro que essas práticas trazem, ao invés de conscientizar as pessoas, os profissionais e as empresas sobre a importância de construir produtos digitais acessíveis.

A pesquisa em design ainda tem pouco protagonismo no processo de construção de produtos digitais. Como pesquisador de UX, como você enxerga o desenvolvimento de pesquisas voltadas para acessibilidade?

Fernando Fernandes: Do ponto de vista da acessibilidade, realizar pesquisas ainda é bastante desafiador. É difícil encontrar tempo, recursos e ferramentas acessíveis para entrevistas e dinâmicas. Contudo, num projeto que estou inserido, focado em pessoas com deficiência, tenho abertura para realizar processos de pesquisa com esse público. Ferramentas acessíveis são essenciais para que diferentes pessoas consigam participar das dinâmicas.

Por exemplo, é importante contar com intérpretes de Libras em entrevistas com pessoas surdas ou disponibilizar leitores de tela para pessoas cegas. Planejar cuidadosamente as dinâmicas e conhecer bem o público-alvo são passos fundamentais para garantir que a pesquisa seja acessível e inclusiva.

Wagner Beethoven: Deve ser um desafio enorme, mas também muito gratificante saber que você está trabalhando em algo tão inclusivo e propício para criar inovações.

Fernando Fernandes: O processo foi longo, complexo e desafiador, mas muito recompensador. Na verdade, ainda é, pois o programa continua ativo. Inicialmente, partimos de um dado alarmante do Censo de 2010: dos quase 46 milhões de brasileiros que declararam algum grau de deficiência, apenas 1% está formalmente empregado.

Pensar em inclusão é, acima de tudo, uma questão social e de integração plena das pessoas com deficiência. Com o objetivo de amenizar essa realidade, criamos o Programa Inclua, que visa fomentar a cultura da inclusão por meio da capacitação técnica e da contratação de pessoas com deficiência no mercado de tecnologia, promovendo maior competitividade tanto nos processos seletivos da Thoughtworks quanto no mercado de trabalho em geral.

Internamente, o programa se propôs a sensibilizar e preparar as pessoas, os projetos e as áreas para receber de forma inclusiva e não capacitista os novos contratados com deficiência. Para isso, foi necessário realizar diversas pesquisas e identificar pontos importantes, como a tendência de crescimento na demanda por inclusão de pessoas com deficiência no mercado de tecnologia. Também identificamos a necessidade de treinamentos internos para os times da Thoughtworks, o que reforçou o desejo da empresa de se tornar referência em inclusão.

Realizamos uma grande preparação interna, com treinamentos de conscientização, palestras sobre capacitismo, estruturação do programa, elaboração do edital, campanhas de comunicação e reestruturação de sistemas, processos e documentos internos, todos pensando em acessibilidade.

A partir disso, lançamos o programa. Abrimos inscrições para a primeira turma de capacitação exclusiva para pessoas com deficiência, e o resultado superou nossas expectativas. Tivemos o maior número de interações nas redes sociais da Thoughtworks até então, e o número de inscritos quase dobrou a meta estipulada. Após um rigoroso processo seletivo com várias etapas, definimos a primeira turma, que contou com 34 pessoas de diferentes deficiências, gêneros, raças e níveis de experiência com tecnologia.

Depois de cinco meses de curso, seguido por uma nova etapa de seleção, contratamos profissionais formados em desenvolvimento back-end em Java. Esse grupo abrangia todas as deficiências. Com isso, a Thoughtworks ampliou seu papel como uma empresa de tecnologia responsável, focada em criar ambientes, processos, práticas e ferramentas éticas e inclusivas.

Wagner Beethoven: Muito legal todo esse processo! Quando o programa foi lançado, vi nas redes sociais da Thoughtworks um enorme orgulho dos resultados. Deve ter sido muito gratificante para todos os envolvidos. É muito bacana que projetos como esse tenham sido realizados aqui no Brasil.

Estamos chegando ao fim da nossa conversa, mas, antes de encerrar, gostaria que você deixasse algumas recomendações de filmes, livros, profissionais ou especialistas para quem está nos ouvindo.

Fernando Fernandes: Claro, com certeza! Vou indicar dois livros que acho muito interessantes. O primeiro é o “Manual Anticapacitista: O que você precisa saber para se tornar uma pessoa aliada contra o capacitismo”, da Carolina Ignarra e do Billy Saga. Esse livro reúne as vivências de dois ativistas cadeirantes, além de trazer dados estatísticos e um panorama sobre pessoas com deficiência no Brasil, incluindo informações sobre leis e direitos.

O segundo livro é “Autobiografias no Autismo”, da Marina Bialer. Essa obra traz relatos de blogs, sites e livros escritos por pais, mães e pessoas dentro do espectro do autismo. Usei bastante esse livro na minha dissertação de mestrado. Ele nos permite compreender melhor o contexto de vida de pessoas autistas e suas famílias.

Falando em jogos e de forma mais acadêmica, quero destacar duas iniciativas. A primeira é a Game Accessibility Guidelines, que é formada por profissionais ao redor do mundo e oferece recomendações de acessibilidade para jogos, divididas por deficiência e níveis de acessibilidade (básico, intermediário e avançado), semelhante às diretrizes WCAG.

A segunda é a AbleGamers, uma organização que visa criar oportunidades para que pessoas com deficiência possam jogar videogames e combater o isolamento social. Ela promove ações e desenvolve suas próprias recomendações de acessibilidade para jogos, conhecidas como APX.

Um canal de YouTube que eu adoro é o do Steve Saylor (@SteveSaylor), um rapaz com deficiência visual que comenta sobre problemas de acessibilidade em jogos digitais. Recentemente, ele se tornou consultor de acessibilidade para jogos.

Por fim, gostaria de recomendar o professor Francisco Lima, da UFPE. Ele é uma autoridade internacional em acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência. Produz muito material relevante, e é uma pessoa extremamente acessível e inspiradora.

Wagner Beethoven: Eu não sabia que o Steve Saylor tinha continuado com o trabalho! Conheci ele por meio de um vídeo em que ele ficou muito emocionado ao conseguir jogar The Last of Us Part II.

Fernando Fernandes: Esse vídeo é incrível! Foi a primeira vez que ele conseguiu jogar de forma plena, independente e autônoma.

Wagner Beethoven: Sou muito suspeito para falar sobre o professor Francisco Lima. Ele é realmente inspirador. Tive minha primeira reunião com ele em 2015, sobre o Enades, e saí com a cabeça explodindo pelas ideias magníficas que ele trouxe.

Fernando Fernandes: Ele é incrível. Já participei de um curso sobre acessibilidade em jogos que ele promoveu na UFPE. É maravilhoso.

Wagner Beethoven: Antes de finalizar, gostaria de deixar o espaço para você compartilhar as últimas palavras deste episódio.

Fernando Fernandes: Minha mensagem é: pense em acessibilidade desde o início do projeto. Quando ela é planejada desde o começo, fica mais fácil de implementar, e o projeto se torna mais completo e inclusivo.

Outra dica é sempre inserir pessoas com deficiência nos processos de desenvolvimento. Por mais que você estude e pesquise, nada substitui a experiência e os pontos de vista de quem vive essa realidade diariamente. No fim, seu projeto só tem a ganhar em qualidade.

Wagner Beethoven: Muito obrigado, Fernando!

Fernando Fernandes: Eu que agradeço pelo convite. Vamos juntos construir um mundo mais equitativo e socialmente responsável!

Wagner Beethoven: Para quem acompanhou até aqui, peço que avalie o Foco Acessível com 5 estrelas na sua plataforma de streaming favorita. Isso nos ajuda a alcançar mais pessoas! Envie suas dúvidas e comentários para focoacessivel@gmail.com ou nas nossas redes sociais. Não esqueça de acessar focoacessivel.github.io para mais detalhes.

Lembre-se: acessibilidade é um assunto que, cedo ou tarde, vai impactar sua vida!

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