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Foco Acessível Do lado esquerdo dois círculos um maior e outro menor, estão centralizados um dentro do outro. O maior é tracejado e não é preenchido com cor e o menor é preenchido com cor. Ao lado das formas, o texto 'Foco Acessível'. A logo está apresentada na cor verde escuro.
Episódio #7 / 38:19
Homem careca, sorrir, de pele clara, vestindo uma camiseta preta. Ele está posicionado ao ar livre, cercado por plantas tropicais.

Acessibilidade Sem Fronteiras: Inovação e Inclusão no Design Digital

Marcelo Paiva • Criador do WCAG Plugin para Figma

Neste episódio, conversamos sobre como a acessibilidade digital pode ser integrada desde o início dos projetos, explorando práticas inovadoras, desafios e oportunidades, além de abordarmos a aplicação das diretrizes WCAG, o uso de inteligência artificial para melhorar processos, e a importância de envolver pessoas com deficiência no design.

Ouça o episódio

Detalhes
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Bem-vindos ao sétimo episódio do Foco Acessível! Neste episódio especial, gravado em um ambiente histórico em Olinda, recebemos Marcelo Paiva, especialista em design inclusivo e acessibilidade digital, com uma carreira internacional de mais de 30 anos. Marcelo compartilha suas experiências transformadoras no desenvolvimento de tecnologias acessíveis, a integração da acessibilidade em grandes projetos e os desafios enfrentados na aplicação das diretrizes WCAG.

Falamos sobre como a acessibilidade não é apenas uma obrigação, mas uma oportunidade de inovação, destacando práticas como a colaboração entre designers e desenvolvedores e o uso de ferramentas que promovem a inclusão. Além disso, Marcelo nos leva a refletir sobre o futuro do design, as novas possibilidades de interação e a importância de incluir as pessoas com deficiência desde o início dos processos de criação.

Junte-se a nós nesta conversa inspiradora e informativa sobre o futuro da tecnologia acessível! E não se esqueça de acessar os links e à transcrição desta conversa e nos seguir nas redes sociais: LinkedInInstagramTikTokFacebookPinterestTwitterThreads E se você tiver alguma sugestão ou feedback, adoraríamos ouvir de você - participe e contribua para tornar o mundo um lugar mais acessível e inclusivo para todos.

Índice do episódio

  • 00:00:02 - Introdução
  • 00:00:18 - Apresentação de Marcelo Paiva
  • 00:00:57 - Áudio-descrição - Wagner
  • 00:01:23 - Áudio-descrição – Marcelo
  • 00:01:40 - Pergunta 1
  • 00:03:18 - Pergunta 2
  • 00:05:20 - Pergunta 3
  • 00:08:14 - Pergunta 4
  • 00:12:50 - Pergunta 5
  • 00:14:45 - Pergunta 6
  • 00:16:21 - Pergunta 7
  • 00:20:31 - Pergunta 8
  • 00:23:40 - Pergunta 9
  • 00:26:05 - Pergunta 10
  • 00:28:13 - Pergunta 11
  • 00:32:22 - Pergunta 12
  • 00:35:27 - Pergunta 13
  • 00:36:44 - Mensagem final

Biografia do especialista

Marcelo Paiva é uma referência em Experiência do Usuário (UX) e Acessibilidade Digital, com uma carreira de 30 anos nos Estados Unidos, criando experiências inclusivas para empresas da Fortune 500 e o Departamento de Educação dos EUA. Ele é reconhecido por integrar a acessibilidade desde o início dos projetos, desenvolvendo inovações como uma ferramenta para criação de protótipos acessíveis e o plugin WCAG para Figma. Marcelo é um palestrante internacional e defensor de que a acessibilidade não é um opcional, mas um direito essencial, inspirando profissionais ao redor do mundo a priorizarem a inclusão no design digital.

Edição do episódio: Booa, Paulo! Design & Multimídia

Wagner Beethoven: Boas-vindas! Estamos começando mais um episódio do Foco Acessível, podcast sobre acessibilidade, diversidade e inclusão. A gente traz aqui especialistas em acessibilidade para falar sobre como é desenvolver tecnologia através do tema. Hoje, estamos em um cenário especial: estamos aqui falando do Beiju... Beiju... Pirá.

Marcelo Paiva: Beijupirá...

Wagner Beethoven: Exatamente, um restaurante aqui em Olinda. Eu tô com uma presença internacional: Marcelo Paiva, referência em experiência do usuário e acessibilidade digital. Ele tem uma carreira de 30 anos nos Estados Unidos, criando experiências inclusivas para empresas da Fortune 500 e para o Departamento de Educação norte-americano. Ele é reconhecido por integrar acessibilidade desde o início de projetos, desenvolvendo inovações como uma ferramenta para a criação de protótipos acessíveis e o plugin da WCAG para o Figma. Marcelo é palestrante internacional e defensor de que acessibilidade não é uma opção, mas um direito essencial, inspirando profissionais ao redor do mundo e priorizando a inclusão no design digital.

Eu sou Wagner, e sou um homem gordo. Estou aqui com uma camisa preta com estampa. Sentado, ao fundo, há uma parede cheia de pedras. Ao meu lado, está o especialista. Bem-vindo, Marcelo!

Marcelo Paiva: Obrigado! Eu não tenho cabelo, mas eu tô sempre sorrindo.

Wagner Beethoven: E aí, Marcelo, eu queria pedir para você se autodescrever para a nossa audiência que não consegue enxergar.

Marcelo Paiva: Eu tô vestindo uma camisa preta. Estamos sentados numa adega, onde parecem as pedras históricas de Olinda, um lugar maravilhoso, lindo, com uma vista maravilhosa. E só isso.

Wagner Beethoven: Então, a gente vai começar aqui o rol de perguntas, né, Marcelo? Ao longo da sua carreira como designer, você desenvolveu uma paixão pela acessibilidade. O que levou a focar nesse tema e como isso mudou sua trajetória profissional?

Marcelo Paiva: Exato. O que me levou a focar em acessibilidade foi meu trabalho com a comunidade de design no sul da Flórida, onde a gente fez uma série sobre acessibilidade digital. Começamos a ver muitos participantes da comunidade, membros da comunidade com deficiência, querendo aprender mais sobre UX. O primeiro deles foi o Mark McGuire. Ele nasceu surdo e pediu: “Olha, tem como colocar o closed captions no vídeo ou no Zoom?”. Aí, claro, “tem como a gente colocar sinais de Libras?”. Então, a gente contratou um intérprete de sinais de Libras americano. E aí começou, né? A gente foi notando que existe essa necessidade. Foi mais ou menos isso que me fez pensar nessa paixão. O interessante disso é que, quando você começa a prestar atenção, ainda mais estando no desenvolvimento de soluções digitais, você não olha mais para como fazia antes. Você só quer aprender...

Wagner Beethoven: ...pensa na frente…

Marcelo Paiva: ...e continuar incluindo. Então acho que essa minha paixão pela inclusão é mais uma responsabilidade do que uma paixão.

Wagner Beethoven: Bacana. E aí, no seu perfil do LinkedIn, você destaca essa integração da WCAG no seu workflow de design, né? Quais foram os maiores desafios que você enfrentou para incorporar essas diretrizes, especialmente em projetos de grande escala? A gente vê que tem muitos profissionais, e nem sempre eles têm know-how em acessibilidade. Como é que você encara esse desafio? Como foi?

Marcelo Paiva: Na verdade, não foi um desafio, foi uma oportunidade, porque a acessibilidade é sempre um ponto para checar, como se fosse um teste de qualidade no final do processo de desenvolvimento. A gente notou que, quando chegava no final, pensávamos: “Ah, vamos ver se isso é acessível”. É claro que não era. E eu, como líder do time, percebi que a gente precisava diminuir isso. Precisávamos aprimorar o nosso processo de design para começar a aplicar essas boas práticas de acessibilidade antes.

Então, a gente começou a fazer anotações, pesquisas de usuário com pessoas com deficiência e a evangelizar o time de managers para escrever os requerimentos, né?

Wagner Beethoven: Os requisitos.

Marcelo Paiva: Os requisitos, exatamente. Então, o que fizemos foi adotar o que, em inglês, chamamos de shift left. Vamos virar a acessibilidade para a esquerda, que sempre está à direita no final do processo. Vamos trazê-la para o início. E onde a gente chegou foi no projeto que fiz com o Departamento de Educação nos Estados Unidos. Eles me escolheram por causa disso: eu incluía pessoas com deficiência no primeiro dia. Então, antes de começarmos a criar um layout ou uma interface, já tínhamos testado toda a solução em pessoas com deficiência.

Wagner Beethoven: Bacana. E essa oportunidade foi o que te levou a criar o plugin do Figma para evangelizar esse pessoal! Como foi o impacto e o feedback que você teve depois da criação desse plugin?

Marcelo Paiva: Isso foi interessante porque, mais uma vez, vi como uma oportunidade. A gente pensa que todos os padrões de acessibilidade apresentados pelo WCAG são apenas padrões ou regulamentos, né? Mas, para os designers, isso tem que ser algo de design. Então, como pegar isso e expandir? Foi exatamente o que eu fiz. Eu criei esse plugin do Figma para trazer esses padrões diretamente para o design no Figma. Ao invés de precisar procurar, como: “Ah, olha, a altura mínima de qualquer botão tem que ser de 44 pixels, né?”. Existe um padrão para isso, um guideline. Então, em vez de ir ao WCAG buscar qual é o...

Wagner Beethoven: ...facilitou, né?

Marcelo Paiva: Facilitou. Agora você faz a busca e já joga o cartão para o design. Está tudo lá. A pessoa não precisa sair. E, como o WCAG é muito, muito extenso, com muito conteúdo, o que eu fiz foi algo bem simples, que você pode...

Wagner Beethoven: ...e você acaba evangelizando outras pessoas envolvidas, como programadores, testadores, POs e outros, certo?

Marcelo Paiva: Exatamente. Uma coisa interessante adicionalmente que eu fiz foi criar cada guideline. A gente tinha stand-ups toda semana, e todo dia a gente se encontrava como time. No final da reunião, eu tirava cinco minutos para explicar um padrão a cada dia. Eu fazia apresentações muito dramáticas, sabe?

Era como se o que a gente chama de “WCAG Goal” fosse uma fala do próprio usuário com deficiência reclamando por você não ter criado algo acessível. Sempre começava com esse drama: “Poxa, vocês me esqueceram! Ah, eu sou... tenho dislexia, e essa fonte está muito junta. Tem muito conteúdo aqui, né?”. Criava esse drama e, depois, mostrava o padrão.

Wagner Beethoven: Tapa na cara da turma, né? Para balançar um pouco o pessoal.

Marcelo Paiva: E funciona. Funciona!

Wagner Beethoven: Bacana, porque traz essa realidade do mundo real, né? O pessoal sempre acha que pessoas com deficiência estão muito distantes de quem faz.

Marcelo Paiva: Tá dentro da gente. A deficiência tá sempre dentro da gente.

Wagner Beethoven: Exato! E no seu trabalho com acessibilidade digital, você também tem colaborado com iniciativas globais, né? Como é que você enxerga a diferença de diretrizes internacionais, como o ADA dos Estados Unidos, o Europe Ask 127 e a WCAG? Você acredita que há um caminho maior para uma padronização? Para não ter tanta quebra entre a lei brasileira, norte-americana e europeia?

Marcelo Paiva: É, acho que o lado bom disso tudo é que todos eles convergem para o Web Content Accessibility Guidelines, o WCAG. Ah, só diferencia na versão. Hoje, a versão que nós temos é a 2.2, mas a maioria das leis e regulamentos internacionais de acessibilidade apontam para a versão 2.1, né? A 2.2 veio trazer mais essa preocupação com pessoas com deficiências e desafios neurológicos. Então isso tudo vai avançando. E não só isso, quando você aplica boas práticas para uma versão, só para ficar conforme a lei, você tem que lembrar que precisa manter aquilo, porque daqui a 2, 3 anos, o ciclo geralmente é de 4 em 4 anos, e eles elevam para a próxima versão.

Wagner Beethoven: E vai deixando o negócio mais complexo para se manter, né?

Marcelo Paiva: É. Com relação ao nível internacional, trazendo essa boa prática de seguir a última versão do WCAG, você vai estar sempre na frente, né? Você não vai ter que ficar se preocupando: “Poxa, será que eu atendi esse requerimento?”. A Europa agora está lançando a data final para todas as companhias criarem conteúdos acessíveis, em junho de 2025.

Então, isso vai criar uma comoção, vai aumentar o volume sobre acessibilidade. Nos Estados Unidos, passou agora em 28 de abril a mesma lei, mas tem uns 2 anos para todos os estados nos Estados Unidos cumprirem com a lei de acessibilidade. Ela é diferente do Section 508, a Sessão 508 do ADA, né? Que é o American Disability Act.

É diferente porque essa Sessão 508 é só para o setor federal, para atender aos empregados com deficiência. Essa nova lei, que será definida daqui a 2 anos, será para todos os americanos.

Wagner Beethoven: O bacana é que esses países grandes tendo essas leis, os países menores acabam copiando. Então, aqui no Brasil, a gente tem uma iniciativa, através de Reinaldo Ferraz, para criar na ABNT uma regra de acessibilidade digital. E aí, com essa lei, a gente consegue até multar empresas que não cumprem, né? Porque hoje, a lei ainda é muito branda. Não se sabe o que precisa para atingir esse nível de acessibilidade, mas, tendo as regras no jogo, a gente consegue multar essas empresas que não são acessíveis.

p>Marcelo Paiva: Eu acho que a multa é uma questão, é uma questão meio que limite, né? Acho que requer bastante educação para as pessoas começarem a aplicar desde o início. É uma responsabilidade, não é uma lei.

Wagner Beethoven: É, mas aí, nesse caso da aplicabilidade, também a gente tem que mudar a parte educacional, né? Das instituições, das faculdades, dos cursos. Isso aí é uma mudança que vai... Eu tô vendo um bocado de curso universitário e cursos livres tendo essa mudança de mentalidade, né?

Marcelo Paiva: É, mas isso é interessante. Aqui no Brasil, você tá fazendo um papel muito importante, que é divulgar. Ah, eu sigo Marcelo Sales, ele é um fera, né? Então, pessoas como vocês são muito importantes para divulgar e mostrar essa responsabilidade para os designers, para os programadores. Você não precisa ter um requerimento para fazer algo acessível, não! Já tá no seu DNA fazer um design acessível, já tá no seu DNA programar de forma acessível.

Wagner Beethoven: O objetivo do podcast é esse: trazer especialistas para desmistificar. Não é nada de outro mundo, né? A gente consegue fazer isso!

E aí, no seu LinkedIn, você mostra que tem uma rede sólida sobre acessibilidade, né? Você apresenta muito material! O que você daria para designers que gostam de construir e querem construir essa rede de contatos focada para promover essa causa? Ou seja, como é que a gente consegue ter acesso a pessoas de fora do país ou, no seu caso, trazer essas pessoas de lá para cá para construir uma rede mais sólida e fomentar mais o assunto?

Marcelo Paiva: Vai depender da barreira da língua, né? Toda essa rede de contatos que eu tenho é em inglês, mas acho que o LinkedIn traduz tudo direitinho. Então, é só me seguir. Uma das coisas é um canal de comunidade em acessibilidade que eu sigo no Slack. Tem uma comunidade só de acessibilidade, e a gente pode colocar o link. Eu te passo e coloco o link do convite. Aí vai brasileiro entrando lá e vai ser legal...

Wagner Beethoven: Daqui a pouco o negócio tá todo em português.

Marcelo Paiva: Legal.

Wagner Beethoven: E aí essas traduções de navegador ajudam muito. Elas quebram muitas barreiras, né? Eu já li muito material italiano e alemão com a ajuda do Google Tradutor. Então, a turma pode usar e parar de demonizar esse tipo de coisa, né?

Marcelo Paiva: Ah, o inglês como a segunda língua... Então, não seja alguém como eu, quando cheguei nos Estados Unidos, que não falava inglês. Ou uma pessoa que tem o espanhol como língua nativa. Isso também é uma deficiência, é considerado como uma deficiência. E a gente tem que criar essa solução para acessar o conteúdo. Você fala francês?

Wagner Beethoven: Não...

Marcelo Paiva: Mas se você for à França, você vai ficar deficiente!

Wagner Beethoven: Exato.

Marcelo Paiva: Então, é basicamente isso.

Wagner Beethoven: E a gente sente na pele que uma pessoa é surda quando fala Libras ou ASL, que é o idioma norte-americano, tenta falar com a gente e a gente não sabe, né? Fica à deriva.

E a gente vai partir para a parte técnica. Essa pergunta especificamente: você fez algumas apresentações, e aí você fala muito sobre o token de design, né, para promover acessibilidade. Pode nos explicar como é que esse token de acessibilidade funciona e como ele pode ser integrado nos sistemas de design?

Marcelo Paiva: Certo! Ah, sistema de design é traduzido aqui no Brasil...

Wagner Beethoven: Design System.

Marcelo Paiva: Então, design systems... Você precisa abstrair todas as decisões de design o máximo que puder. É aí onde entram os tokens. Os tokens criam... Eles fazem... Como é que falam? Agrupam todos os valores de cores, de tipografia, de espaço, de ícones. Isso fica abstraído do código e do design. E, ao abstrair essas decisões de design num ambiente separado, independente, você consegue usar essas decisões de design num arquivo do Figma como também numa biblioteca de componentes, né? Que é usada para telefone ou para web.

Então, se você precisar aumentar o espaço de um parágrafo, pode aumentar aqui, e automaticamente isso vai impactar todo o seu design, toda a sua biblioteca de componentes. É por isso que a gente fala em abstrair o máximo que puder, principalmente esses tokens, que aí fica mais fácil de manusear e gerenciar.

Wagner Beethoven: Bacana. E no processo de design, quais são as barreiras mais comuns para atingir altos padrões de acessibilidade como a WCAG e o triplo A (AAA), né? Você pode recomendar alguma coisa para superar essas barreiras? Porque a gente fala de duplo A (AA), que seria o desejável. O triplo A (AAA) seria a excelência da acessibilidade, né?

Marcelo Paiva: Certo, ótima pergunta. Nas palestras que eu dou... Bom, não vamos assumir que todas as pessoas sabem o que é o triplo A, tá?

Então, nesse padrão de acessibilidade apresentado pelo consórcio da World Wide Web, eles têm três níveis de...

Wagner Beethoven: ...de conformidade.

Marcelo Paiva: ...de conformidade, obrigado! Tem a “A”, a “2A” e o “3A”. A “A” é o mínimo possível para alguém começar a entender, para você começar a incluir um grupo grande de...

Wagner Beethoven: ...usuários, de pessoas...

Marcelo Paiva: ...e o “2A” é o mais abrangente, é o que todos os governos tentam adotar. E aí entra o “3A”, que é ter a certeza de que todos os seus vídeos têm sinais de Libras, têm closed captions, têm a transcrição do vídeo e do áudio, têm a descrição de áudio no vídeo, né? Como foi nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Eles fizeram um trabalho formidável. Então, isso requer um orçamento muito maior, requer um tempo maior para você incluir todo mundo possivelmente.

O que eu recomendo é sempre ter o triplo A como o seu alvo. Esqueça o “2A”. Você, como designer, tente seguir o “3A”. Porque o que acontece é: “Ah, não, vou seguir só o ‘2A’.” Aí você nem tenta aprender o “3A”. Por exemplo, a gente falou do tamanho do botão: 44 pixels, certo? 44 está no “3A”. Mas eu sempre mudo meu design para 48, que já é um múltiplo de 8. 44 não é um múltiplo de 8. Então, eu já sempre aumento para 48. Assim, você começa a criar essas práticas atendendo ao “3A”.

Wagner Beethoven: É importante também a gente dizer que o triplo A, quando a gente fala, é mais custoso para desenvolver. Porém, não é porque você não consegue atingir o triplo A que você vai deixar de fazer. Aí você faz e planeja mais um pouquinho, vai entregando uma coisa incremental, né? É importante essa manutenção e evolução do produto.

Marcelo Paiva: Exato. E é o desafio para o designer, né? Você tentar: “Caramba, como é que eu vou fazer um ‘3A’ nesse problema que eu tenho?”. Você inova mais, você cria outras ideias.

Wagner Beethoven: E a gente tá entrando num momento em que tudo tem que ser muito rápido, então se pega muita coisa pronta. Será que as coisas que estão prontas de fato são aderentes ao seu público ou aderentes à acessibilidade? Já pararam para pegar um framework como o Bootstrap ou até uma biblioteca de componentes prontas do Figma para fazer esse tipo de teste? Ou seja, a biblioteca foi feita há um ano atrás. Será que hoje ela tá aderente ainda com essas coisas novas que estão sendo descobertas? Esse é o desafio que a gente tem que enfrentar, né?

Marcelo Paiva: Eu vou além, porque tudo que eu faço eu jogo... Eu tenho um GPT, um ChatGPT aqui, já especialista em acessibilidade. Então, tudo que eu faço, eu jogo nele: “O que que eu preciso fazer para isso ficar ‘3A’?”. Ele cria uma listinha para você, e aí você analisa o que pode melhorar.

Wagner Beethoven: É, utiliza a inteligência artificial como aliada, né? E aí você também destaca uma abordagem colaborativa para criação e aprimoramento de ferramentas de acessibilidade. Quais são os principais desafios que você enfrenta ao envolver a comunidade de designers e desenvolvedores nessa missão? Porque a gente sabe que designers e desenvolvedores têm treinamentos diferentes, né? Até as mentalidades são diferentes. Como é que a gente aborda isso?

Marcelo Paiva: Durante todo o processo de design e desenvolvimento, a gente sempre colabora juntos, né? Designers e desenvolvedores fazem uma revisão sobre o design que a gente tá tentando implementar, e a gente faz um review de acessibilidade. Quanto mais você emparelhar com o seu programador, essa colaboração é importante. Não tente fazer tudo sozinho e depois entregar, porque isso cria outros problemas. Até mesmo como líder, você tá otimizando o treinamento, treinando todo mundo de uma vez só, e não de forma separada.

Uma coisa muito importante é que os designers aprendam como a acessibilidade é implementada. Porque tem muita coisa boa. Eu vou te dar um grande exemplo: muitos poucos websites têm regiões ou, como a gente chama, landmarks. Tem a região do topo, que é chamada de banner. Dentro do banner geralmente tem uma navegação ou uma busca. Essas regiões servem como atalhos para leitores de tela. Você tem uma listinha para ir direto ao conteúdo principal ou à região de busca. Mas, se você souber como implementar isso, quando fizer o seu layout, já inclui essas regiões. Você já inclui a maneira de fazer os skip links, para pular para essas regiões como componente do seu design system.

Você pode pegar o primeiro parágrafo sucinto e adicionar como suporte para o heading, para o título de cada seção. Então, tem várias coisas que, aprendendo como é feito, o designer pode criar outros padrões de acessibilidade e boas práticas.

Wagner Beethoven: Lembrando que a gente não tá criando essa guerra de que designer tem que programar, tá? Isso aqui é longe disso!

Marcelo Paiva: É só saber olhar. Hoje, até mesmo o programador não tá mais programando. Ele joga o lado na inteligência artificial, ela faz, e ele só checa, né? Eu acho que é uma boa oportunidade também para sempre ter essa colaboração.

Wagner Beethoven: Bacana. E aí, nesse meio, a gente fala sobre o envolvimento de pessoas com deficiência dentro do design desde o início, né? Que conselho você daria para equipes que ainda não têm esse processo de envolver pessoas com deficiência no início? Qual é a ajuda que você consegue colaborar?

Marcelo Paiva: Isso é um ponto meio sensível porque vai contra o objetivo comercial de muitas empresas, né? Se a empresa não tem orçamento para criar uma solução inclusiva, cria um desprendimento muito maior de quem quer elevar a inclusão da solução. Então, essa disposição de querer incluir uma pessoa com deficiência pode começar de maneira informal. No meu caso, na minha rede de contatos, já trabalhei e tenho muito contato com pessoas com deficiência. Mas você não precisa disso; a própria comunidade pode ajudar. Você deve conhecer alguém que é cego. Aí você pode perguntar: “Como é que você acessa o Amazon.com?”.

Fazer essa pergunta, criar esse contato e testar. “Posso testar um negócio com você? Me explica se isso aqui é acessível.” Você começa informalmente. Posso dizer uma boa prática: se você conseguir fazer toda a sua solução de design ser navegável com teclado, já é um passo gigante.

Wagner Beethoven: E outro ponto também é que nada impede da gente procurar uma associação de pessoas cegas ou surdas para uma conversa. Mesmo sem dinheiro, a gente pode dizer: “Gostaríamos de selecionar usuários”. E aí o pessoal, se quiser, colabora, né?

Marcelo Paiva: Eu tenho comentários sobre isso porque teve uma fase, lá nos Estados Unidos, em que as pessoas começaram a pedir para pessoas com deficiência testarem produtos sem pagar. A gente parou com isso rápido, drasticamente. Começamos a falar nas redes sociais para não fazerem isso. São pessoas que têm a mesma necessidade que nós de serem remuneradas, e elas têm que ser bem remuneradas. Não é porque têm deficiência que vão ser remuneradas de forma inferior.

Wagner Beethoven: E aí, voltando, você já falou sobre o seu plugin do Figma, né? Estamos batendo nessa tecla porque é uma coisa muito sólida e deixa muito próximo o WCAG do designer. Essa palavra passa por todo mundo que tem acesso ao arquivo, e é uma iniciativa muito promissora também. Qual tem sido o feedback dos usuários até agora? E como você espera alcançar a evolução desse plugin? Qual é a próxima etapa dele?

Marcelo Paiva: A minha intenção com o plugin... Ele tá bem estável. Tenho recebido bons comentários, e o uso do plugin tá aumentando semanalmente. Ou seja, as pessoas estão usando. É um plugin tão simples que, quando fui buscar para ver se tinha algo parecido, fiquei surpreso que não tinha! Aí falei: “Pô, dá para fazer isso muito rápido.” Acho que o maior trabalho foi criar uma base de dados com todas as informações. Esse foi o maior trabalho: criar essa API.

Isso é uma das propostas que fiz para o W3C: criar todo o conteúdo no formato de uma API, para que possamos criar outros aplicativos e usar o conteúdo sem precisar copiar e colar para criar um aplicativo. Existe isso, e a versão 3.0 deve estar chegando nos próximos 12 a 24 meses. Eles já estão trabalhando nisso, e a ideia é continuar atualizando o plugin. Além disso, eu não queria fazer muito mais, a não ser que haja uma necessidade específica, como colocar uma funcionalidade para selecionar um frame no Figma e pedir para o plugin verificar se é acessível. Ele poderia dizer: “Ó, tá aqui”. Já coloca todos os cartões referentes a esse design que o designer pode usar, aplicando inteligência artificial. Acho que seria interessante.

Wagner Beethoven: E aí você fala muito sobre acessibilidade, e a gente sabe que acessibilidade é muito importante para a inovação, né? Principalmente no campo do design. Existe alguma resistência por parte das empresas e profissionais para adotar práticas acessíveis? Você acha que acessibilidade pode se tornar um nome tão importante quanto a inteligência artificial no mercado?

Marcelo Paiva: É outra pergunta tão boa. Como eu falei sobre a União Europeia e a lei de acessibilidade, a data final é em junho, e todo mundo tem que seguir a lei. Isso vai acontecer nos Estados Unidos daqui a 2 anos. Quando isso acontecer, vai ser uma correria danada para tornar tudo acessível. Então, seria muito importante, um diferencial muito bom para nós, designers, expandir esse conhecimento em acessibilidade, porque está aí uma coisa que a inteligência artificial ainda não pode fazer: interagir com a pessoa com deficiência para testar uma solução.

A inteligência artificial conhece os padrões de design que são acessíveis, mas sem testar, pelo menos ainda não vi. Então, acho que acessibilidade é um passo que a gente tem que tomar na comunidade de design, assim como a inteligência artificial. A gente não pode ficar da maneira que estamos; o mundo está mudando com isso, e a gente tem que mudar junto! O legal disso é que existe essa preocupação muito grande.

Posso falar um pouquinho além da acessibilidade e da inteligência artificial: como é que a gente, como designer, vai começar a pensar em interações de design além dos braços? Então, seria muito importante começarmos a imaginar o futuro do UX, que não vai ser só usar o mouse para interagir com a interface; você vai interagir diretamente no seu cérebro. Tá aí o Neuralink, do Elon Musk, que está criando uma conexão direta entre o computador e o nosso cérebro.

A nossa vista é um órgão que está entre a interface, o computador e o nosso cérebro.

Wagner Beethoven: É até mais rápido que o braço, né?

Marcelo Paiva: A vista?

Wagner Beethoven: Sim!

Marcelo Paiva: É, mas você tem que processar. Nesse processamento, você comanda o braço para mover o mouse e interagir. Agora, se você é uma pessoa com deficiência visual e tem um computador, um chip ligado ao seu cérebro que cria as imagens diretamente no cérebro, sem precisar da sua visão, o cérebro rapidamente indica: “Mova para a esquerda”. Sem o braço, o tempo de interatividade é muito menor do que o que temos hoje.

Essa solução de design vai ser um desafio para a gente solucionar, porque agora estamos comandando as coisas com gestos de face, como se eu piscar ou fizer um gesto...

Wagner Beethoven: ...pinça com os dedos.

Marcelo Paiva: É, se eu fizer esse gesto. Então, vão continuar aparecendo novos gestos, e a inteligência artificial não vai criar esses gestos. A gente tem que interagir. A gente tem que interagir com o humano para testar esses gestos.

Wagner Beethoven: É importante. A Janaína Bernardino, que conversou com a gente no último episódio, fala muito sobre os designers saírem da mesa, né? Para testar com pessoas com deficiência...

Marcelo Paiva: Sair da caixa, né?

Wagner Beethoven: Sair de trás da mesa e ir para o lado do usuário, né? Conversar com esse usuário e entender que talvez... Não, com certeza, a gente só consegue essas inovações se sairmos da frente do computador e convivermos com essas pessoas, né?

Marcelo, quais são as dicas que você dá para convencer líderes e tomadores de decisão a investir tempo, recursos e acessibilidade? Especialmente aqueles que acham que acessibilidade é um esforço adicional.

Marcelo Paiva: Acho que é mais um esforço vendo de baixo para cima, porque depende muito da consciência da liderança. Então, você tem dois cenários. Se você tem um líder que já tem uma noção do que é inclusão, isso fica mais fácil. Mas, se você trabalha numa organização que não tem inclusão e diversidade, aí depende de você mesmo levantar a bandeira, começar a mudar o seu processo de design, fazer perguntas.

Eu mesmo estou disponível no LinkedIn duas vezes na semana. São duas horas e meia que dedico à comunidade. Se você quiser olhar, faz: “Marcelo, me ajuda com esse design aqui, vê onde posso melhorar na acessibilidade”. Eu me dedico.

Então, é bom criar esses recursos independentes, para você ter essa responsabilidade e criar esse DNA de inclusão em si mesmo. Uma vez que você começa a exemplificar isso para os membros do seu time, o seu líder vai começar a perceber. É aí que a gente começa a educar de baixo para cima. E, quando vem de cima para baixo, é uma coisa mais imediata, né? Olha, recebemos um processo porque o nosso aplicativo não é acessível. A gente tem que resolver esse problema urgente. Aí cria um negócio meio dramático.

Mas vai acontecer, né? Ou é pela dor ou pelo amor!

Wagner Beethoven: Certo. E aí a gente enfrenta um problema: as pessoas começam a encarar acessibilidade como um extra, né? E aí, de baixo para cima, isso meio que muda a visão. É uma responsabilidade, né?

Marcelo Paiva: Só acho que não é um extra. Faz parte.

Wagner Beethoven: Não, quando vem de cima para baixo: “Ó, o chefe tá mandando eu fazer, então vou fazer porque ele tá mandando”, né?

Marcelo Paiva: É. Mas é muito importante você criar essa capacidade própria de acessibilidade. Isso vai te dar outras oportunidades, como mudar para uma companhia que valorize mais a inclusão e acessibilidade.

Então, você crescendo como indivíduo, isso te dá outras oportunidades. De repente, na companhia em que você está, se você perceber que eles não se importam com isso, continue desenvolvendo. A oportunidade vai aparecer no momento certo.

Wagner Beethoven: E aí, olhando para frente, quais inovações você gostaria de ver no campo da acessibilidade digital nos próximos anos? Como você encara o futuro do desenvolvimento de produtos acessíveis?

Marcelo Paiva: Eu queria ver mais abrangência na área neurológica, né? Porque a gente vê muita gente com deficiência invisível, quer seja depressão ou até mesmo fibromialgia, dor no corpo, enxaqueca, né?

Esse tipo de deficiência impacta a produtividade de um empregado, de qualquer pessoa, né? Imagina uma pessoa que tá atravessando um divórcio dramático. Aí chega um advogado com um contrato de divórcio que é difícil de ler. Uma pessoa dessa não vai conseguir ler um contrato de separação de forma acessível. Então, a gente, como designer, como criador de conteúdo, tem que explorar mais isso. Eu queria ver mais essa abrangência.

Wagner Beethoven: Bacana. E a gente tá chegando ao fim de mais um episódio. Eu queria deixar o espaço aberto para você falar para a nossa audiência algo que não foi perguntado ou qualquer mensagem que você gostaria de compartilhar.

Marcelo Paiva: Eu quero me deixar disponível. Tenho uma despretensão muito grande em querer sempre compartilhar o que eu sei, né? Tudo que eu publico no LinkedIn ou até mesmo a maneira como a gente se conheceu é de forma bem evangélica, né? A gente tá sempre querendo compartilhar o que acha que é bom. Então, fiquem à vontade para me conectar no LinkedIn ou mandar uma mensagem: “Ei, Marcelo, assisti ao seu podcast, adoraria entrar em contato, vamos falar? Semana que vem, meia horinha, pra gente criar esse contato”. Gostaria de deixar essa mensagem.

Wagner Beethoven: Bacana. Então a gente fica aqui, finalizando mais um episódio do Foco Acessível. Todos os links que foram mencionados aqui e a descrição da conversa vão estar no episódio. Quem tá assistindo pelo YouTube, por favor, dê o like, curta, compartilhe. A gente tá nas principais plataformas de streaming de áudio. Então, eu fico por aqui e lembrem-se: acessibilidade, cedo ou tarde, vai impactar sua vida!

Marcelo Paiva: Eu queria te agradecer por essa oportunidade incrível, por esse lugar muito legal. É muito bom poder estar aqui em Olinda, Pernambuco, compartilhando um pouco do que eu sei.

Wagner Beethoven: Bacana! Obrigado, até mais, pessoal.

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